Elogio dos Sonhos
Nos sonhos
eu pinto como Vereer van Delft.
eu pinto como Vereer van Delft.
Falo grego fluente
e não só com os vivos.
e não só com os vivos.
Dirijo um carro
que me obedece.
que me obedece.
Tenho talento,
escrevo grandes poemas.
escrevo grandes poemas.
Escuto vozes
não menos que os mais veneráveis santos.
não menos que os mais veneráveis santos.
Vocês se espantariam
com minha performance ao piano.
com minha performance ao piano.
Flutuo no ar como se deve
isto é, sozinha.
isto é, sozinha.
Ao cair do telhado
desço de manso na relva.
desço de manso na relva.
Respiro sem problema
debaixo d'água.
debaixo d'água.
Não reclamo:
consegui descobrir a Atlântida.
consegui descobrir a Atlântida.
Fico feliz de sempre poder acordar
pouco antes de morrer.
pouco antes de morrer.
Assim que começa a guerra
me viro do melhor lado.
me viro do melhor lado.
Sou, mas não tenho que ser
filha de minha época.
filha de minha época.
Faz alguns anos
vi dois sóis.
vi dois sóis.
E anteontem um pinguim.
Com toda a clareza.
Com toda a clareza.
( Wislawa Szymborska)
FOTOPOEMA
PHOTO© Adreea Anghel
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